quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

VIOLÊNCIA: ANGÚSTIA SEM FIM

A violência é um tema recorrente, mas abordá-lo é inevitável. Ninguém, absolutamente ninguém, hoje, pode se eximir de reflexões acerca do assunto. Qual pai ou qual mãe afinal, não se vê presa de permanente tortura, de infindável aflição, de incontornável angústia, quando vê o filho ou a filha sair hoje de casa em Belém ou qualquer cidade do interior, independentemente da idade que ele ou ela possam ter?
E não se diga, como forma de atenuar o sofrimento, que a angústia só se justifica quando o filho ou a filha, por alguma razão, precisam se deslocar até uma das chamadas “zonas vermelhas”, expressão muito em voga durante certo tempo, sobretudo na crônica policial, para definir as áreas potencialmente mais perigosas da cidade, aquelas que ordinariamente concentram (ou concentravam) os maiores números de registros criminais.
Nos dias atuais, o sentimento de medo, de pânico, de pavor mesmo, se abate sobre os pais, sobre toda a família e se espalha sobre os amigos e conhecidos independentemente de qual seja o destino de quem se disponha a sair de casa, seja para o trabalho, para os estudos, para alguma atividade de lazer ou qualquer compromisso, mesmo o mais trivial.
Seja criança, adolescente, jovem, adulto, tenha a idade que tiver, a situação é a mesma, os riscos são os mesmos, as ameaças são as mesmas – e sempre crescentes. Hoje em dia, pouca diferença faz entre ir para a escola, para o trabalho, para a igreja, para o clube ou para o comércio. Também já não existem diferenças notáveis entre as áreas centrais e os bairros periféricos, estes tão malvistos em tempos passados. A violência se espalhou, fugiu ao controle, grassa em todas as partes como uma epidemia.
Estamos falando de uma realidade concreta, palpável, sentida na pele e na alma, da pior maneira possível, por toda a sociedade paraense. É terrível o ato de reduzir a números e simples dados estatísticos a verdadeira tragédia que está em curso no Pará. Mas não temos como fugir disso, se queremos dar uma ideia precisa do infortúnio que estamos vivenciando, como observadores e ao mesmo tempo como vítimas.
Os dados do 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, estudo anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, já haviam colocado o Pará em situação vexatória, como um dos Estados mais violentos do Brasil. Agora, é o próprio Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP), por meio de informações tornadas públicas pelo Sindicato dos Servidores Públicos da Polícia Civil, que vem reforçar o sentimento de desolação, desenhando com tintas ainda mais fortes o cenário de terror que se instalou em terras paraenses.
Somente no ano passado, foram 3.772 assassinatos, 218 a mais que no ano anterior. Ou seja, foram quase quatro mil vidas humanas tolhidas pela violência. Quantas crianças? Quantos jovens? Quantos pais, quantos trabalhadores, quantas mães de família? São perguntas que permanecem sem respostas, porque não temos, aparentemente, ninguém apto a fazê-lo.
É estarrecedora a omissão do poder público. O Governo do Estado, que detém o comando da área de segurança pública, se mantém alheio e silente. Mas a culpa não é unicamente do Executivo. Para se chegar à atual situação de descalabro houve certamente um conjunto de omissões e negligências dos agentes públicos.
Porque não se trata apenas de homicídios. Além dos 3.772 assassinatos, houve ainda, em 2013, mais de 70 mil casos de roubos e registros de quase 63 mil furtos. Os números são aterradores. Eles humilham e assustam a sociedade paraense, exigindo do poder público uma resposta urgente.
A banalização da violência até o ponto do respeito zero pela vida humana, como temos hoje, é uma calamitosa obra de construção coletiva, pela qual devem ser responsabilizados duramente todos aqueles que têm a obrigação de agir, de fazer. E que nada fazem.
Por: Helder Barbalho (*)
(*) Presidente da FAMEP-Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará.
 

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