VIOLÊNCIA: ANGÚSTIA SEM FIM
A
violência é um tema recorrente, mas abordá-lo é inevitável. Ninguém,
absolutamente ninguém, hoje, pode se eximir de reflexões acerca do
assunto. Qual pai ou qual mãe afinal, não se vê presa de permanente
tortura, de infindável aflição, de incontornável angústia, quando vê o
filho ou a filha sair hoje de casa em Belém ou qualquer cidade do
interior, independentemente da idade que ele ou ela possam ter?
E
não se diga, como forma de atenuar o sofrimento, que a angústia só se
justifica quando o filho ou a filha, por alguma razão, precisam se
deslocar até uma das chamadas “zonas vermelhas”, expressão muito em voga
durante certo tempo, sobretudo na crônica policial, para definir as
áreas potencialmente mais perigosas da cidade, aquelas que
ordinariamente concentram (ou concentravam) os maiores números de
registros criminais.
Nos dias atuais, o sentimento de medo, de
pânico, de pavor mesmo, se abate sobre os pais, sobre toda a família e
se espalha sobre os amigos e conhecidos independentemente de qual seja o
destino de quem se disponha a sair de casa, seja para o trabalho, para
os estudos, para alguma atividade de lazer ou qualquer compromisso,
mesmo o mais trivial.
Seja criança, adolescente, jovem, adulto,
tenha a idade que tiver, a situação é a mesma, os riscos são os mesmos,
as ameaças são as mesmas – e sempre crescentes. Hoje em dia, pouca
diferença faz entre ir para a escola, para o trabalho, para a igreja,
para o clube ou para o comércio. Também já não existem diferenças
notáveis entre as áreas centrais e os bairros periféricos, estes tão
malvistos em tempos passados. A violência se espalhou, fugiu ao
controle, grassa em todas as partes como uma epidemia.
Estamos
falando de uma realidade concreta, palpável, sentida na pele e na alma,
da pior maneira possível, por toda a sociedade paraense. É terrível o
ato de reduzir a números e simples dados estatísticos a verdadeira
tragédia que está em curso no Pará. Mas não temos como fugir disso, se
queremos dar uma ideia precisa do infortúnio que estamos vivenciando,
como observadores e ao mesmo tempo como vítimas.
Os dados do 7º
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, estudo anual do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, já haviam colocado o Pará em situação
vexatória, como um dos Estados mais violentos do Brasil. Agora, é o
próprio Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP), por meio de
informações tornadas públicas pelo Sindicato dos Servidores Públicos da
Polícia Civil, que vem reforçar o sentimento de desolação, desenhando
com tintas ainda mais fortes o cenário de terror que se instalou em
terras paraenses.
Somente no ano passado, foram 3.772 assassinatos,
218 a mais que no ano anterior. Ou seja, foram quase quatro mil vidas
humanas tolhidas pela violência. Quantas crianças? Quantos jovens?
Quantos pais, quantos trabalhadores, quantas mães de família? São
perguntas que permanecem sem respostas, porque não temos, aparentemente,
ninguém apto a fazê-lo.
É estarrecedora a omissão do poder público.
O Governo do Estado, que detém o comando da área de segurança pública,
se mantém alheio e silente. Mas a culpa não é unicamente do Executivo.
Para se chegar à atual situação de descalabro houve certamente um
conjunto de omissões e negligências dos agentes públicos.
Porque não
se trata apenas de homicídios. Além dos 3.772 assassinatos, houve
ainda, em 2013, mais de 70 mil casos de roubos e registros de quase 63
mil furtos. Os números são aterradores. Eles humilham e assustam a
sociedade paraense, exigindo do poder público uma resposta urgente.
A
banalização da violência até o ponto do respeito zero pela vida humana,
como temos hoje, é uma calamitosa obra de construção coletiva, pela
qual devem ser responsabilizados duramente todos aqueles que têm a
obrigação de agir, de fazer. E que nada fazem.
Por: Helder Barbalho (*)
(*) Presidente da FAMEP-Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará.
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